quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A pedra.

Foi-se embora sua inspiração, por sutil escapada entre os dedos. Desde então, fez-se pedra, inquebrável por não ser capaz de sentir, inabalável, inflexível. Por confiar demais em sua força, inquietou-se, e saiu a destruir outras. Sempre pagou caro por seus vícios. Ao quebrar outras pedras, enfraquecia seu interior e lascava suas extremidades, ficando cada vez menor e frágil. Fustigadas muito intensas, deixavam marcas. Essas se abriam em rachaduras que a desvairavam em dor. Houveram desafios demais, até que um a decompôs a pequenos pedaços de pedra, depois areia leve e fina. Ao se sedimentar, sentiu juntas todas as dores, e desejou não mais existir. Por piedade do destino, o vento levou seus restos. Fez-se chuva, brisa, frio e saiu a contemplar a chama, capaz de aquecê-la.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Minha alma aclamava por aquela que é fogo:

-Queima-me, pois já não sinto nada, eu nunca senti.

Agora sinto precisar fazer-te extinguir, afogar-te chama, no meu corpo que derrete ao seu toque. Encarar-te-ei o olhar e verás todos os meus delírios. Acariciar-te-ei o colo, e roubarei você pra mim.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Quebrando o gelo.

Minha inspiração se consolida na falta dos sentimentos, na frieza. Prefiro a ausência deles para redigir meus poemas. Não sou movida a sentimentalismo. Mais há algo que sempre busco. Que me arranca o tédio, que acalma o lobo. Combate o frio, faz-me queimar a alma. Deixa-me impulsiva, sem controle, torna-me vulnerável. A paixão, é o que derrete o gelo. O imprevisível, e seus riscos, o que me atraem.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Anseio para que o sangue em minhas veias se congele, e mata-me de frio.

Peço que me deixe quieta. Permita-me me afogar em agonia, no meu intelecto frustrado, na poesia inacabada.

Deixe-me viver meus erros e fracassos, contemplar minha própria dor. Puxar-me-ei os arreios da ignorância, ao tempo que me arrependo da hipocrisia.

Já não sou mais sua criança. Arrume outro alguém para encasular sob seu teto. Minhas asas se criaram, e cobiçam por voar. Deixa-me ir, que prometo estar aposto. E quando necessário, hei de servir-te.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Seu alicerce está abalado, teme não resistir aos próximos ventos. Não quer ver-se em ruínas, nem tão pouco enlouquecido. O élitro do anjo não bate mais, e seu elmo se quebrou. Julga-se vulnerável ao extremo. Seu coração foi embairado, e em sua face Le-se: desisti!
Não, já não mereces o que almejas. Durante a noite, permanece insone. O silencio o inquieta, nem mesmo podes sonhar acordado. Não consegue orçar o tempo que assim esteve.
Certo dia sentiu, dos outros que até então se passaram, um tanto quanto diferente. Sentia a ousadia pairando no ar. Finalmente, com um resquício de esperança, almejara algo que realmente valia a pena, que estava disposto a buscar, onde quer que isso o pudesse levar.
Encontrou alguém em um dia sem sol. Em que do céu nublado, vinham bater-lhe ventos gélidos, que o desanimavam e roubavam-lhe a esperança. Andara triste e abatido, mas ainda podia se notar um leve sorriso irônico esculpido em seus lábios gelados.
Por muito, caminhara cabisbaixo, concentrado apenas no contar dos sons de seus paços. Surgindo e desaparecendo, em segundos constantes, sonorizando uma rua muda.
Ao elevar o olhar para guiar-se, deparou com uma imensidão avermelhada, presa em olhos que o hipnotizavam. Uma mistura de audácia com ingenuidade. A perfeita simetria entre o provocante e o doce. Jamais havia visto nada parecido.
Pela primeira vez sentiu-se tão intimidado com a presença de alguém, que inconscientemente silenciou seus passos e parou de respirar, concentrando-se apenas em encarar aqueles olhos, que tanto o intrigavam.