quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A pedra.

Foi-se embora sua inspiração, por sutil escapada entre os dedos. Desde então, fez-se pedra, inquebrável por não ser capaz de sentir, inabalável, inflexível. Por confiar demais em sua força, inquietou-se, e saiu a destruir outras. Sempre pagou caro por seus vícios. Ao quebrar outras pedras, enfraquecia seu interior e lascava suas extremidades, ficando cada vez menor e frágil. Fustigadas muito intensas, deixavam marcas. Essas se abriam em rachaduras que a desvairavam em dor. Houveram desafios demais, até que um a decompôs a pequenos pedaços de pedra, depois areia leve e fina. Ao se sedimentar, sentiu juntas todas as dores, e desejou não mais existir. Por piedade do destino, o vento levou seus restos. Fez-se chuva, brisa, frio e saiu a contemplar a chama, capaz de aquecê-la.

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